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‘Proteger a floresta é uma responsabilidade da humanidade’

  • Assessoria de Comunicação
  • 8 de mar. de 2021
  • 3 min de leitura


Ninawá Huni Kui, liderança que representa cerca de 16 mil indígenas, fala sobre Amazônia e a força dos seres sagrados


“Muitas dessas pessoas (indígenas) não são indivíduos, mas “pessoas coletivas”, células que conseguem transmitir através do tempo sua visão de mundo…eu me alimento da resistência continuada desses povos, que guardam a memória profunda da Terra.” Ao conhecer Ninawá Huni Kui, é impossível não pensar nessa frase do escritor, ativista e liderança indígena Ailton Krenak. O povo Huni Kui é o mais numeroso do Estado do Acre, fronteira Oeste do Brasil, onde a Floresta Amazônica transborda para a Bolívia e o Peru, e Ninawá é uma das suas lideranças mais destacadas e atual presidente da FEPHAC, a Federação dos Povos Huni Kui do Estado do Acre, que representa os cerca de dezesseis mil Huni Kui (sendo que dois mil deles vivem no Peru) distribuídos por 116 aldeias e 5 municípios diferentes.


É a partir deste lugar de ser coletivo que Ninawá atua incansavelmente, defendendo seu território, a Floresta Amazônica, a cultura e a espiritualidade do povo Huni Kui. “Eu tenho 41 anos, e nos últimos 20 ou 25 anos tenho lutado em defesa do meio ambiente e em defesa da floresta, principalmente na região amazônica” – conta ele, direto de sua aldeia, via uma recém instalada conexão de internet, no território Hênê Bariá Namakiá, localizada no médio Rio Envira, município de Feijó.


Tanto a liderança quanto a luta pela floresta são responsabilidades ancestrais que Ninawá carrega consigo – “a minha família é uma família tradicional de caciques e lideranças, e meu nome foi dado pelo meu avô, que homenageou o avô dele, também Ninawá. Esse nome não é só dado, é também uma responsabilidade familiar. Ni quer dizer a floresta, e Nawá todos os seres. Então traduzindo para o português seria algo como o protetor da floresta ou o guardião da floresta.”


A relação com a terra e a floresta, aliás, tem para os Huni Kui um sentido distinto daquele com o qual estamos acostumados na perspectiva moderna/ocidental. Como ele mesmo explica: “O território envolve não só um espaço para plantar alimentos ou para ter uma árvore em pé, mas o território tem uma abrangência de conhecimentos, de vidas, de relações com a natureza no modo geral, e a floresta é uma delas. A floresta é um espaço sagrado para o nosso povo”.


Essa rede de relacionamento entre o povo Huni Kui e os seres mais que humanos pode ser sentida especialmente no encontro com as medicinas presentes na floresta, vistas como entidades em uma ampla teia de entrelaçamentos. “A medicina está ligada com a madeira, com as folhas, com as raízes, com o próprio aroma, com o som. Os nossos conhecedores das plantas medicinais, os nossos curandeiros, se relacionam com todas essas ligações, e através deles as medicinas se conectam com o restante do povo….é uma ligação espiritual, uma relação mesmo. Nós tratamos as medicinas como uma mãe, como uma tia, tanto que as pessoas recebem até nomes de medicinas.”


Não causa espanto, portanto, que a dor da Terra seja sentida de forma profunda por Ninawá quando tragédias ocorrem até em ecossistemas distantes de onde vivem os Huni Kui, como os incêndios que atualmente varrem o Pantanal, bioma da região Centro-Oeste do Brasil e considerado pela UNESCO como Patrimônio Natural Mundial. Os incêndios deste ano, os maiores já registrados no bioma, foram provocados por uma combinação de estiagem profunda e possíveis ações criminosas, que estão sendo investigadas pela Polícia Federal: “Hoje a gente vê com grande tristeza este grande crime na região do Pantanal. Porque não é um impacto ambiental, é um crime mesmo ali. Isso nos entristece. Está lá no Mato Grosso mas afeta a nossa relação espiritual e emocional com aqueles milhares de animais que não tiveram a oportunidade de se defender. Muitas pessoas não sentem isso porque vêem apenas a natureza como um cenário bonito e não com algo sagrado, como é para o nosso povo.” relata Ninawá.


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