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Assessoria de Comunicação

Noemia Rocha quer a campanha 'mulher vota em mulher'

“Por que mulher não vota em mulher? Por que a mulher não se posiciona em relação à sua participação na política?”, foram questionamentos devolvidos por Noemia Rocha (PMDB) ao responder perguntas sobre a sua visão da participação da mulher na política. Para a vereadora, é “inadmissível” o Brasil ter 52% de mulheres eleitoras e, ainda assim, eleger mais homens do que mulheres.


Na opinião da peemedebista, a cota mínima exigida pelos partidos (de 30% de candidatas mulheres para a disputa eleitoral) não é garantia de apoio e visibilidade nas campanhas. “Falta empenho do diretório partidário. A leitura do partido político é que a mulher é figurante”. Ela defende que este cenário só vai melhorar, a curto prazo, com a criação da cota feminina nas cadeiras políticas e com a campanha “mulher vota em mulher”.


Câmara Municipal de Curitiba: Mais da metade do eleitorado brasileiro é feminino, mas nas eleições gerais de 2014 apenas 28,9% dos 22,3 mil candidatos eram mulheres. No pleito de 2012, apenas cinco vereadoras foram eleitas (de um total de 198 mulheres que concorreram ao cargo). Como a vereadora avalia a situação? Por que a mulher não participa tanto da política quanto se espera?


Noemia Rocha: É uma questão que me preocupa muito. Por que mulher não vota em mulher? Por que a mulher não se posiciona em relação à sua participação na política? Eu acredito em vários aspectos e um deles é o cultural: o espaço do homem é público, enquanto a mulher está condicionada ao espaço privado, a ficar dentro de casa. Nesta cultura impregnada, a mulher pensa que não precisa ter voz, o homem faz a parte dela. Mas o que me preocupa mais é que a lei diz que a cota mínima exigida aos partidos para viabilizar candidaturas é de 30% de mulheres, mas nem chegamos a isto.


CMC: Mas esta cota não deveria influenciar positivamente na questão?


NR: Antes da lei era muito pior. Quando a cota passou a ser obrigatória é que se começou a busca por mulheres. Mas esta busca não se deve ao fato de que o diretório do partido quer investir na mulher, quer dar oportunidade para ela e acredita nela. Não, é ao contrário. O partido a convida porque precisa da mulher para que o homem possa ser o candidato. A mulher ouve: “você entra, não precisa fazer nada, não precisa trabalhar. Só cede seu nome ao partido para que a gente possa viabilizar a minha candidatura”.


CMC: Na sua opinião, o espaço da mulher na política é artificial?


NR: Totalmente. Tanto que nunca passamos do limite de 30% de candidatas. E como eleitas, a média é de 8%. É muito difícil a participação feminina não só pela questão cultural, mas também porque a mulher tende sempre a recuar quando se trata do assunto. Elas precisam se posicionar. Elas são capazes, têm percepção aguçada na política. Por conhecer o trabalho das mulheres na política eu sei disso. Eu procuro mobilizar a mulher nas minhas redes sociais, mas percebo que a própria mulher não quer participar da política.


CMC: Por que a vereadora tem esta percepção?


NR: Acho que a mulher pensa em fazer a participação de bastidores, ela não quer dar a cara para bater. Ela pensa que política é coisa de homem, que vai ser humilhada. Há a desigualdade de tratamento.


CMC: Quer dizer que há o preconceito?


NR: Existe sim. Porque somos minoria. Além do preconceito, não há o empenho na luta pela causa da mulher. As próprias eleitoras têm que mudar o seu conceito. Temos que fazer a campanha “mulher vota em mulher”. Eu sei que é uma situação segmentada, mas precisamos estimular a mulher a acreditar mais na mulher candidata. O que a gente percebe é que muitas mulheres pensam assim: “acredito mais no político do que na mulher política”. É uma leitura que faço deste cenário. É inadmissível sermos 52% de eleitoras, mães dos 48% restantes, termos a autoridade nas mãos, e ainda assim recuarmos e darmos o poder aos homens.


CMC: O que impede a mulher engajada politicamente, que tem uma atuação voluntária muito forte, de se candidatar a um cargo eletivo?


NR: A falta de financiamento e estrutura para campanha, de empenho do diretório partidário. Não há investimento, não há preparo, não há uma leitura de que a mulher é capaz e que se deve investir nela. A leitura do partido é de que a mulher está ali apenas para cumprir os 30% da cota, de que ela é figurante na política. Tanto que tem homens que falam assim: “eu quero me candidatar, mas preciso achar três mulheres para cumprir a cota”.


CMC: Há quem defenda que a cota feminina nas cadeiras das casas legislativas poderá garantir a presença de mais mulheres na política. A vereadora concorda?


NR: Precisamos da cota e de uma reforma política. Para subir de 8 para 50% a participação feminina na política, temos muito chão para andar. Por isso, a cota é a única maneira de mudar este quadro e estabilizá-lo a curto prazo. A partir deste mecanismo, por exemplo, entra o homem que fez 10 mil votos (culturalmente ele vai ser mais votado) e a mulher que fez 5 mil votos. Na sequência, entra o próximo homem que fez 9,2 mil votos e entra a próxima mulher que fez 4,4 mil votos. E por aí vai. É o único mecanismo que vejo como participação mais efetiva da mulher na política.


CMC: Pensando no equilíbrio no poder: se tivéssemos 50% de vereadores e 50% de vereadoras na Câmara de Curitiba, a política seria melhor conduzida?


NR: O meu sonho de consumo é 50% de homens e 50% de mulheres na política, 50% razão e 50% emoção. Acredito que o debate político seria mais equilibrado. A mulher tem muito a contribuir por ser mulher. Ela tem uma percepção diferenciada. O homem é mais razão, tem a visão imediata. A mulher não, ela pensa na causa e na consequência.


CMC: A vereadora apontou caminhos para a maior participação feminina na política, mas lembrou que o voto do eleitorado brasileiro ainda é predominantemente para o candidato. Como conseguir o voto das pessoas para a mulher? Como fazer com que acreditem no papel da mulher na política?


NR: Mostrando serviço, mostrando que as mulheres são capazes de estar no Parlamento, à frente de uma prefeitura, do governo do Estado. Mostrando que as mulheres têm uma bandeira, que se importam com aquelas que estão à deriva, na marginalidade. As mulheres precisam ser mais unidas, acreditar mais em si mesmas. Podemos avançar não como pessoa, mas como conjunto de pessoas.


Por Pedritta Marihá Garcia – Jornalista da Diretoria de Comunicação da Câmara Municipal de Curitiba.


Matéria produzida pela CMC em 2015.



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