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Assessoria de Comunicação

'Ele dizia que morreria trabalhando', diz esposa de médico de UPA de Curitiba vítima da Covid-19



William Quinto Maldonado, 55 anos, foi o 46º médico do Paraná que morreu vítima da Covid-19. Esposa reforçou o pedido de consciência das pessoas.


O dia 28 de janeiro foi a última vez que Mônica Smak Batista Maldonado, 40 anos, viu o marido William Quinto Maldonado, 55 anos. Médico que atuava em uma UPA de Curitiba, ele contraiu a Covid-19 e passou 34 dias internado, mas não resistiu.

Segundo o Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), Wiliam Maldonado é o 46º médico do Paraná que perdeu a batalha para a Covid-19. Mesmo em meio a dor, a esposa disse que o marido morreu da forma que ele sempre imaginou. “Falávamos que, ao aposentar, viajaríamos e aproveitaríamos a vida. Mas ele sempre disse que não, que morreria trabalhando. E foi o que aconteceu”, contou Mônica Madonado.


Apaixonado pela medicina, Wiliam não quis atender ao pedido da esposa quando a pandemia estava no começo.

“Ele via as pessoas sofrendo, a situação agravando e eu pedi que ele ficasse em funções administrativas, pois tive medo, mas ele negou. Disse que a vida dele era isso”.

A luta contra a doença

Depois de um ano trabalhando ativamente no combate à pandemia, William disse a esposa que em um dos procedimentos, com um paciente que estava com a Covid-19, sentiu algo diferente.

“Ele precisou entubar este paciente e teve uma sensação estranha, algo ruim. Era como se algo estivesse o avisando que ele tinha se contaminado. Pode não ter sido, mas contando os dias dessa entubação, deu certinho o tempo em que ele apresentou os primeiros sintomas”.

Conforme o relato da esposa, o médico começou a se sentir mal no dia 25 de janeiro. Como Mônica faria uma cirurgia, ele acreditou que estava tenso e não seria Covid-19. Um dia depois, tomou a vacina e se sentiu indisposto.

“Ele teve febre e sentiu que alguma coisa estava errada. Fez o teste rápido, que deu reagente para a Covid-19. Depois fez o PCR e confirmou que realmente estava com a doença”, contou a esposa.


William ficou bem e em casa por uma semana, até que piorou e precisou ser internado. Morreu 34 dias depois.

"Os médicos fizeram de tudo, mas ele não respondia. Os exames melhoravam um pouquinho, mas logo depois piorava. Ele venceu algumas etapas, mas as outras que vieram foram muito piores. Ele se foi”, detalhou Mônica. Sem despedidas, fica o alerta

Mônica disse que, desde o primeiro momento, mesmo com medo de que a doença levasse seu marido, tanto ela quanto ele acreditavam que tudo daria certo.

"Pensávamos que ele ficaria internado e voltaria para a casa. Mas não foi assim. A gente nem se despediu, porque tenho certeza que ele também achava que sairia”.

A história de 17 anos juntos, com dois filhos de 12 e 13 anos, foi interrompida pela Covid-19. Embora a dor, Mônica, que é enfermeira, sabe que o marido foi o melhor que ele pôde ser, tanto para a família como para as outras pessoas.

"Como profissional, ele era um médico de verdade, porque amava a profissão. A família tinha nele como uma pessoa que resolvia e ajudava em tudo. Me sinto muito agradecida por ter vivido com um homem que só me ensinou coisas boas. É nisso que busco forças neste momento”.

Honrando o médico que William Maldonado foi, a esposa deixou claro que as pessoas não podem descuidar e devem, sim, ter medo da Covid-19.

"Cuidem de seus amores, vejam quantas famílias estão despedaçadas. O vírus é muito perigoso. Nunca pensei que iria ver meu marido pela última vez quando ele foi para o hospital, mas foi a última vez”.


Profissionais da saúde exaustos

Há mais de um ano, os profissionais ligados diretamente à saúde têm vivido em uma verdadeira guerra. Até esta quarta-feira (10), 242 profissionais, de médicos a serviços gerais, morreram vítimas da Covid-19 em todo o Paraná, segundo a Secretaria Estadual de Saúde do Paraná (Sesa-PR).

Ver colegas perdendo a batalha é a prova de que o vírus não escolhe quem atinge. O médico Carlos Roberto Naufel Junior, que atua no pronto-socorro do Hospital Evangélico Mackenzie, desabafou.

"A situação está bem grave. A demanda sobrecarrega o sistema como um todo e afeta também os outros pacientes, porque as pessoas continuam tendo outras doenças também. Junto disso, faltam profissionais e os que estão atuando se sentem muito além do limite”.

Segundo o médico, não adianta que as pessoas critiquem o governo por não abrir mais leitos e vagas em hospitais.

“Simplesmente porque não adianta nada ter um espaço sem que se tenha o profissional. Todos os profissionais já estão sobrecarregados, do cara que tira o lixo hospitalar e que pode levar a doença para a família, até o médico”.

Ao longo do último ano, Carlos, que conhecia o médico William Maldonado, perdeu mais um médico conhecido e outros dois profissionais, um enfermeiro e um técnico de enfermagem.

“Mas também doí muito ver profissional chorar por saber que algum familiar pegou o vírus. A pessoa não sabe se foi ela que levou para a casa o vírus ou não. Além da sobrecarga física, ainda tem a questão emocional. É muito pesado".


O alerta é mais que válido

O Paraná tem, nesta quinta-feira, quase 730 mil casos confirmados e mais de 12.700 mortes pela Covid19. Destacando que desde o começo da pandemia nenhum profissional da saúde se furtou em atender, mesmo com todos os medos, Carlos Roberto Naufel Junior pediu que as pessoas tenham a consciência de que este é o momento mais grave da pandemia.

"Talvez seja o momento em que todo mundo esteja cansado, esgotado, do ponto de vista de isolamento social e financeiro. Mas levando em consideração o número de mortes, de pessoas precisando de UTI e que vão morrer sem, porque o sistema colapsou, é importante seguir as orientações das autoridades".

O médico pediu que as pessoas mantenham o isolamento, usem máscara e o álcool gel e fiquem em casa sempre que puderem. Só assim conseguiremos diminuir a transmissibilidade do vírus.

“Temos que ter a conscientização de que não são os jovens que vão ficar doentes, mas sim as pessoas que estão com eles em casa. Vão morrer por essa idiotice, irresponsabilidade. A vacina ainda vai demorar e não existe tratamento precoce, então temos que seguir as medidas sociais”.

Sobre a vacina, Carlos também reforçou a mensagem de que as pessoas não recusem quando chegar a vez.

"Quando tiver a vacina disponível, tome. Ninguém nunca questionou a origem das vacinas que tomou, não é agora que tem que questionar, ainda mais no momento em que vivemos”.


Fonte: G1

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